Hannes é o primeiro convidado do Ondas Suaves. Porquê o Hannes? Porque a ideia inicial partiu dele, e como tal, só faria sentido se fosse ele o primeiro.
Hannes é um Islandês que passou grande parte da sua infância na Suécia. Tal como eu, esta é a sua primeira vez na China e também tal como eu, a primeira vez fora da Europa. É aluno da University of Iceland (Reiquejavik) e veio para a China estudar chinês durante um ano, como exchange student do Instituto Confúcio. Pedi-lhe para me deixar uma foto da sua estadia na China, e ele respondeu com uma foto de grupo em frente à banca de Portugal no Dia Cultural (segundo a contar da direita). Deixo-vos com o texto dele, traduzido do inglês por mim (lápis azul sempre à mão!).
« Deixei a Islândia num domingo de manhã e cheguei à universidade na segunda à noite, viajando durante muitas horas sem dormir. Cansadíssimo, mal cheguei ao quarto tive de tomar um grande banho e dormir. Só me levantei para comprar água, e encontrei logo o primeiro problema. Na Islândia temos a melhor água do mundo, portanto eu estava receoso no tipo de água que podia comprar. Comprei uma garrafa com o maior dos receios, e só bebi depois de confirmar se estava bem selada, pelo sim pelo não.
A primeira impressão que tive da China foi chocante. Aterrei em Shanghai e apanhei o comboio para Ningbo, apanhei um táxi para a universidade (sabendo que não devia aceitar os táxis privados porque já me tinha informado na internet acerca dos esquemas que usam). Tudo parecia normal na cidade, mas o táxi ia cada vez para mais longe, ate que entrámos numa estrada horrível (a pior que já vi na minha vida) com uma vizinhança péssima e ai eu pensei para mim mesmo - ah a universidade deve ser longe daqui, num local limpo, com arvores e flores - infelizmente não era. Lembro-me perfeitamente do taxista virar na rua à direita e entrar numa zona ainda mais degradante e parar - Mas onde é que eu fui parar? – pensei.
A segunda impressão, foi quando acordei a meio da noite para ir comprar água e decidi ir à vizinhança, entrei no bairro Nongmao… e nem tenho palavras que descrevam as ruas. Foi horrível. No segundo dia queria ir comer, mas estava com medo porque tudo tinham mau aspecto e parecia tão sujo. Com este receio, nos primeiros dias praticamente não comi.
Não estava acostumado a viajar para tão longe e era a primeira vez fora de casa dos meus pais. Na Europa nunca tive problemas mas aqui tinha medo de entrar nos restaurantes. Até conhecer outros europeus e sentir-me muito mais confiante num grupo de pessoas na mesma situação que eu. Com eles tudo ficou muito mais normal.
Depois destes três meses, já me acostumei ao quotidiano. Por vezes sinto-me aborrecido, no entanto, já encontrei coisas por aqui com que me distrair, desde o desporto, jogos ou as noitadas com os russos. Mas continua a ser difícil encontrar algo decente para comer.
Comparando com a Islândia, a grande diferença é claro a quantidade de pessoas. Somos somente 300 mil e tal na Islândia, estava habituado a andar na minha vizinhança (a maior em densidade populacional na capital) e não encontrar ninguém durante algum tempo. Aqui há pessoas por todo o lado.
Não poderia deixar de falar de uma das coisas que mais me irrita: a maneira que os chineses usam as buzinas. Na Islândia e em grande parte da Europa, penso, só se usa a buzina para prevenir acidentes, mas aqui eles usam a toda a hora, só para dizer “ei estou aqui”. Deve ser por isso que todas as semanas vejo acidentes de motos. Sempre que oiço as buzinas, sinto uma raiva enorme, porquê tanto ruído? Não entendo porque é que eles, se gostam tanto das buzinas, não as usam nas bicicletas. Todos os dias vejo alguém quase a cair da bicicleta porque por e simplesmente não sabem andar de bicicleta. Parece que fazem as coisas ao contrário, nas bicicletas é que deviam usar buzinas, mas pronto.
No geral a vida aqui é boa, mas falando verdade, esperava que fosse mais interessante. Penso que não é o local ideal para encontrar a “cultura chinesa”, como a vimos lá fora. Estou ansioso por viajar por este pais enorme e experienciar a cultura e natureza chinesa.
Para terminar, algumas palavras para os leitores do blog. Bem, nunca pensei que estando na China viria a escrever num blog para leitores portugueses, mas aqui estou eu e sinto-me honrado por tal. Espero que tenham gostado das minhas palavras e estou disponível para qualquer questão que tenham.
Góðar stundir! »
Muito obrigado ao Hannes.
Abraço!