O comboio K76/8 ! De Ningbo a Qinhuangdao e vice-versa.
Participei naquela que é a maior migração interna do mundo inteiro, ou seja, apanhei um comboio nos dias do ano novo chinês. Eu e mais de 3 mil milhões de chineses (mas não íamos todos no mesmo comboio, felizmente). Não foi fácil arranjar bilhete, como devem calcular, mas lá consegui seguir no dia 16 de Fevereiro de Ningbo para Qinhuangdao numa viagem de mais de 26H, com paragem em mais estações e apeadeiros que sei lá o que. Consegui numa cajadada só matar dois grandes desejos que tinha: participar nesta migração incrível e andar horas intermináveis num comboio-cama (com uma velocidade max de 120 km/h).
É engraçado como anteriormente escrevi um post onde era o único estrangeiro nas ruas e ninguém me ligava nenhuma, pois, num comboio daqueles a coisa é diferente. Acho que senti a mesma sensação que uma pessoa famosa nas ruas. Tinha aqueles chineses que iam passando e olhavam para mim, davam mais dois passos em frente e voltavam para trás só mesmo para confirmar que era um estrangeiro. A cara que mais me faziam era do género: "Aaahh? Mas o que é que estas aqui a fazer?", depois de algumas horas lá me habituei e ainda sorria para a confirmação.
Se não estava na cama a dormir, estava sentadinho à janela a pensar na morte da bezerra, a ler ou a escrever e era nestas alturas que muitos vinham ter comigo e me abordavam com um "Hello" e eu sempre na esperança de encontrar alguém que falasse inglês, seguia a conversa para depois perceber que "Hello" era de facto a única palavra de inglês que iria ouvir. Seguia-se sempre, sempre a pergunta "Qual é a tua nacionalidade?". Sem dúvida que foi uma experiência fantástica e com muitas coisas positivas. Ora, falei mais chinês naquelas viagens que praticamente em toda a minha vida e ainda consegui habitar no mesmo metro quadrado que muitas famílias chinesas, nada melhor poderia pedir para entender esta cultura.
Nunca me esquecerei de adormecer de noite, só com um vizinho (o qual conversei o máximo que consegui em chinês), e acordar de manhã, olhar para baixo (estava na cama de cima) e ver uma família em pijama a tomar o pequeno almoço enquanto o outro vizinho lavava os dentes e um outro ressonava alto e bom som, nisto eu desci da cama e ao olhar para eles a reacção foi a mesma de ver um E.T descer dos céus, acompanhada por sorrisos e um "Bom dia!" colectivo.
Numa situação, estava eu no wc a lavar a cara e um chinês pisou-me sem querer ... foi o suficiente para despoletar uma pequena conversa e passados 5 minutos ter um meio circulo de chineses à minha volta a fazer todas as perguntas e mais algumas sobre mim, felizmente tinha um outro a fazer de tradutor em inglês. Lá fiquei mais de uma hora, a conversar sobre tudo e mais alguma coisa com uma dezena de pessoas. Eles vinham e iam, traziam comida para eu provar e traziam também os filhos pequenos para falar inglês e tirar fotos.
Tirei selfies com dezenas de pessoas (eu que adoro selfies), e dei o meu contacto a outros tantos. Fiquei também com a sensação que vinham pessoas de outras carruagens só para ver o estrangeiro e sorrir. Sorrisos, muitos sorrisos e um acolhimento incrível, foi nisto que se resumiu as duas viagens de 26H cada. Deu ainda para ficar com mais certeza que para todos estes chineses (vindos de todos os cantos da China) Portugal é Cristiano Ronaldo, ponto final. Conhecido e idolatrado por todos, a minha imagem do Ronaldo mudou completamente e não falo do futebol, falo do facto de ser o símbolo do nosso país e de ser acima de tudo, um símbolo que transmite alegria e admiração por todo o lado. Algo que facilmente se transmite para mim, pelo simples facto de partilharmos a mesma nacionalidade. Parece estúpido, mas eu bem sei, vai daqui um agradecimento especial ao CR7.
Abraços!!!