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ondas suaves

Ondas Suaves não é nada mais que a tradução literal dos caracteres 宁波 (Ningbo). Uma pequena cidade costeira situada na província de Zhejiang, China.

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Ondas Suaves não é nada mais que a tradução literal dos caracteres 宁波 (Ningbo). Uma pequena cidade costeira situada na província de Zhejiang, China.

Em Roma, sê Romano - meio ano de China.

Meio ano não é muito, bem sabemos que existem alguns portugueses que aqui estão faz muitos anos; mas também não é pouco, meio ano já me parece o suficiente para opinar sobre o que é viver na China. Lá se foi a fase de aculturação, lá se foi a fase da saudade do quotidiano português, e aqui estamos, numa fase onde o quotidiano é chinês e se vive como se viveria noutro local qualquer do mundo. A partir daqui as preocupações e vivências do dia-a-dia não são mais que isso mesmo, acabou-se a "primeira vez que blablabla na China". Lá diz o ditado: "Em Roma, sê Romano". Deixei de me perguntar porque é que eles estão sempre a beber agua quente e passei a beber agua quente 24h por dia. Deixei de me questionar o porque de se almoçar e jantar tão cedo, e passei a estar almoçado todos os dias antes do meio dia e às 6:00 da tarde já ando na caça do jantar. Deixei de pensar que o pequeno almoço dos chineses é esquisito e passei a comer que nem um chinês pela manhã. As expressões do quotidiano deixaram de ser usadas em inglês e foram inevitavelmente substituídas pelo chinês. E por ai adiante ... Lembro-me agora daquele alemão que conheci no aeroporto de Pequim, e de ele me dizer: "Pior do que chegar à China vindo de fora, é chegar ao teu país, a tua cultura, e teres um choque cultural enorme.", acho que a pouco e pouco me vou apercebendo que ele estava certo. Seis meses não é muito, mas para mim parece que foi o suficiente para ser engolido por esta cultura e passar a estranhar aquela que deveria ser a minha.

 

A todos aqueles que já viveram fora da sua cidade natal, ou ainda vivem, o tempo suficiente para sentirem o coração dividido em várias paixões sem saber qual delas se ama mais, esses que certamente me percebem, tenho a dizer-vos que Ningbo veio destronar Lisboa e Aveiro na qualidade de "a minha segunda cidade". Como me apercebi disso? Das vezes que estive fora de Ningbo, mesmo que por um único dia, a sensação que sempre senti foi a de "cheguei a casa". Lar doce lar. Cumprimenta-se um vendedor de rua, um merceeiro ou um funcionário, como se cumprimenta o vizinho no dia-a-dia, enfim, acho que percebem.

 

As aulas do segundo semestre começaram faz algumas semanas e foi logo abrir, nem nos deram tempo para nos acostumar-mos, é devido a isso que fiquei tanto tempo caladinho e ainda a dever-vos uma ou outra história sobre a ida ao Norte. Com o inicio do nosso semestre chegou uma fornada de novos alunos, e é quando ensinas a outros aquilo que te ensinaram faz 6 meses, que te apercebes como tudo passou a correr. E se não fosse por isso, seria pelo menos pelo fato de hoje já andar de t-shirt outra vez (apesar de estar a chuviscar).

 

E antes de ir embora, acho que nunca vos falei dos PALOP que por aqui andam. Só me lembrei agora disto, porque ainda há bocado estive a falar com um guineense que chegou no segundo semestre e ele me perguntou quem andava por ai a falar português. Ora, conta-se pelos dedos das mãos e nem é cedo nem é tarde para vos contar. O Bruno de Cabo-Verde é aquele que tenho contacto mais permanente e com o qual não me esqueço de como é falar português (apesar de por vezes darmos por nós a falar inglês por respeito aos que nos rodeiam). Existem dois rapazes de Angola e uma rapariga, os quais se vejo uma vez por mês é muito e as conversas não passam muito do bom dia e boa noite. Uma moçambicana que também pouco falo, mas mesmo assim com ela bato recordes de português se comparar com os outros (que não o Bruno). Duas ou três guineenses (ainda nem percebi bem quem são) e uma brasileira que vi uma vez de passagem. Em Pequim conheci um rapaz de S. Tomé e Príncipe e de vez em quando lá trocamos emails. E pronto, como podem ver são poucos e apesar de falarmos a mesma língua, não é a mesma coisa que falar com um português porque as palavras que usamos diferem um pouco (muito). E por falar disso, já lá vão 6 meses sem avistar um tuga. O que por vezes me faz sentir que nem um unicórnio, e nem a propósito muitos colegas se referem a mim como "o unicórnio". O fato de não conseguirem pronunciar o meu nome ajuda ao surgimento de alcunhas, e se no inicio era o unicórnio agora o que pegou é o "Putaoya" (葡萄牙), que não é nada mais que Portugal em chinês. Bem, se vierem a Ningbo já sabem, perguntem ou pelo Joo ou pelo Putaoya.  

 

 

Entretanto o blog surgiu novamente na página do Sapo  o que faz ter cada vez mais seguidores fora do meu grupo de amigos e familiares, sejam todos bem-vindos. A palavra de que escrevia um blog que já conta com milhares de visualizações foi passando de boca em boca por aqui e por causa disso a lista de convidados para vos apresentar vai aumentando, com o tempo eles acabarão por aqui aparecer. Existe inclusive uma banda de estudantes indianos que me pediu para vos mostrar o videoclip (ainda está a ser editado) de uma música deles.

 

 

Texto longo, para compensar todos aqueles dias sem dizer nada. Grande abraço a todos!

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